sábado, 3 de setembro de 2016

Tic tac, tic tac.


         É engraçado como interpretamos o tempo, conforme ele passa. Os últimos 10 anos se passaram e eu nem vi. Quando eu criei este blog, se eu passava semanas sem escrever já pareciam uma eternidade. Quando fiquei o primeiro ano sem escrever, fiquei chocada. Agora, relendo posts antigos, percebo gaps de anos sem qualquer post ou rascunho, e não me sinto mais chocada. A vida é assim, ela dá voltas, e nossas prioridades vão se alterando. Gastamos nosso tempo de outras formas, e coisas do passado às vezes se perdem. Nossas necessidades mudam, assim como nossa percepção da vida, do universo, de nós mesmos. Nossos interesses variam, e às vezes até nossos valores. Nós mudamos, apesar de nossa essência continuar a mesma.

           Mas nossa concepção do tempo é o que mais muda. Quando crianças, meses pareciam anos, e anos pareciam (e eram!) uma boa parte da vida. Agora, chegando aos 28, preciso de uma década para sentir como se tivesse passado uma boa parte da minha vida. E isso me assusta. Ainda mais porque, em muitos aspectos, ainda me sinto aquela menina, ansiosa para fazer 18 anos e tirar sua carta de motorista. Esta década voou, especialmente os últimos anos. Aliás, parece que cada ano passa numa velocidade maior que o anterior. E isso também me assusta. Muito.

         Eu escuto Time, do Pink Floyd, e inevitavelmente sinto arrepios. Além da melodia ser maravilhosa, a letra diz tudo que estou tentando expressar.




Ticking away the moments that make up a dull day
Fritter and waste the hours in an offhand way
Kicking around on a piece of ground in your home town
Waiting for someone or something to show you the way

Tired of lying in the sunshine staying home to watch the rain
And you are young and life is long and there is time to kill today
And then one day you find ten years have got behind you
No one told you when to run, you missed the starting gun

And you run and you run to catch up with the sun, but it's sinking
Racing around to come up behind you again
The sun is the same in a relative way, but you're older
Shorter of breath and one day closer to death

Every year is getting shorter, never seem to find the time
Plans that either come to naught or half a page of scribbled lines
Hanging on quiet desperation is the English way
The time is gone, the song is over, thought I'd something more to say




          Realmente, dez anos se passaram despercebidos, e tenho medo da velocidade que os próximos dez anos vão levar para passar. Queria ser uma Time Lady, imortal e com uma Tardis à minha espera. A percepção do tempo para eles é muito diferente da que qualquer mortal um dia pode ter. Para quem é imortal, com o tempo séculos passam a parecer meses, e dias não passam de um suspiro... Mas, diferente da nossa realidade, para quem é imortal, essa rapidez em que o tempo passa não é um problema. Se não envelhecêssemos ou tivéssemos que encarar a morte mais perto a cada dia, o tempo poderia ter a velocidade que fosse. O único sofrimento que resta é o apego ao que não tem a mesma validade. Apego às pessoas que morrem, às paisagens que mudam, às culturas que desaparecem ou às épocas que nunca voltam.




        Como somos meros mortais, tudo que nos resta é o apego, sofrido ou não. O apego ao tempo, ao amor e à vida.