quinta-feira, 21 de setembro de 2017

Chili Vegetariano

        Desde que cortei animais mortos da minha alimentação, me sinto outra pessoa. Parece que tenho mais energia, mais vitalidade! Não sei se é meu corpo me agradecendo, ou se é só minha mente mais feliz e minha consciência mais leve... Só sei que minha qualidade de vida, nessas duas semanas, já melhorou muito. Tenho comido coisas mais saudáveis, e uma variedade maior de alimentos.

        Hoje me aventurei a adaptar uma receita de Chili que eu costumava fazer usando vaca moída. Desta vez, utilizei a proteína texturizada de soja. A PTS é uma inimiga minha de longa data, desde meus 18 anos, quando parei de comer carcaças pela primeira vez. Só recentemente estou aprendendo a prepará-la corretamente. Já desperdicei muita proteína por não lavar direito, não espremer direito, ou não hidratar o bastante. Muitas refeições frustradas na primeira mordida!! Mas hoje, pela primeira vez, consegui cozinhar usando PTS e ficou perfeito. Tão perfeito que vim compartilhar esta receita.


Chili vegetariano

           Ingredientes:

  • 1 xícara de proteína texturizada de soja FINA 
  • ½ xícara de shoyo 
  • 1/3 xícara de azeite 
  • 1 colher de sopa de vinagre (usei branco) 
  • 1 cebola pequena picada 
  • 3 dentes de alho picados 
  • 1 pimentão picado (usei o verde) 
  • 3 pimentas dedo de moça picadas (sem semente) 
  • 500g de feijão carioca cozido sem tempero e sem caldo (pode ser de caixinha, mas é importante ser sem tempero)
  • 1 lata de 390g de tomates pelados em cubos 
  • 1 caixinha de 130g de extrato de tomate 
  • 1 colher de chá de cominho 
  • Pimenta do reino a gosto 
  • Molho de pimenta vermelha a gosto 
  • Salsinha fresca picada a gosto 

          Modo de preparo:

       Primeiramente, é preciso hidratar a proteína de soja. Misturar 1 xícara de proteína com 2 xícaras de água, e reservar por 30 minutos. Depois, escorrer numa peneira e apertar bem a soja (ela é uma esponja, quando aperta sai bastante água), lavar na água corrente, sempre espremendo e enxaguando (ela tem um gosto de ração, e assim deixamos o gosto o mais neutro possível, para absorver o tempero).
      Quando ela já estiver bem limpa, esprema bem e separe numa tigela. Adicione o shoyo, o azeite, o vinagre, a cebola e o alho picados, e deixe curtindo. Quanto mais tempo, mais saboroso. Eu deixei por 2 horas.
       Numa panela, derreter uma colher de sopa de margarina, e adicionar a proteína com os temperos. Refogar um pouco e deixar curtindo no fogo baixo, com a panela tampada, por uns 5 minutos, pelo menos. Adicionar o pimentão e a pimenta. Mexer, tampar e deixar mais um tempinho curtindo. Adicionar o feijão, misturar bem, e então adicionar o tomate e o extrato de tomate.
      Adicionar o cominho, a pimenta do reino e o molho de pimenta. Misturar tudo muito bem. Acertar o sal – e a pimenta. Deixar fervendo por pelo menos 15 minutos, mexendo com frequência pra não queimar o fundo. Você vai ver como ele vai encorpando conforme ferve. Desligar o fogo e adicionar a salsinha picada.

Chili vegetariano


   
         Servir com nachos, arroz, purê de batata, wraps, guacamole, ou o que te apetecer. Como eu ainda não superei minha vontade de queijo, complemento com queijo mussarela ralado por cima. Alguma indicação de mussarela vegana boa e barata?



quarta-feira, 13 de setembro de 2017

Diário Vegetariano: 3 - Freedom Burguer

            Semana passada eu fiz hambúrgueres deliciosos de lentilha. Me surpreenderam! Textura incrível, e super saborosos. Foram simples (e baratíssimos) de fazer! Amei. A lentilha precisava ficar desmanchando, mas como optei por não usar panela de pressão, nunca chegava no ponto (horas no fogo!!), e cansei. Quando já estava bem cozida, mas ainda firme, desliguei o fogo e bati um pouco com o mixer. Virou um creme bem denso e grosso. Deixei esfriar. Depois de frio, juntei cebola picada, salsinha picada, cominho, pimenta do reino, mostarda, gengibre ralado espremido (só o líquido), shoyo e sal. Misturei bem e adicionei farinha de rosca até dar ponto para manusear e moldar os hambúrgueres. Moldei tudo, sempre umedecendo as mãos, e deixei no congelador até que ficassem firmes e eu pudesse embalar um a um, para então congelar. Cozinhei 500g de lentilha, mas congelei também uma parte sem tempero pra outra hora. Acho que usei uns 300g. 300g de lentilha renderam uns 25 hambúrgueres! Os que fritei antes de congelar foram sucesso absoluto, porém ontem tentei fritar um congelado e não deu muito certo, ele se desfez. Mas continuou gostoso! Hehe. Logo eu descubro o truque! Mas que é libertador fazer e comer um hambúrguer delicioso e livre de morte, com certeza é!
            Fora os hambúrgueres, esta semana comi tomate recheado, shimeji com purê de batata (delícia!), batata recheada, raviolli de queijo ao molho branco, tapioca com queijo branco, espaguete ao sugo, e bastante alface, o que não comia fazia tempo. Agora estou louca para testar uma receita de kafta com proteína texturizada de soja. Nham.

           As pessoas têm enorme dificuldade em conceber o quão libertador é, pra mim, parar de comer carne. “Mas como restringir sua alimentação pode ser libertador?” Então, eu não estou fazendo uma dieta, ou algum tipo de greve alimentícia, eu simplesmente assumi pra mim mesma o quanto eu NÃO quero comer animais mortos. Caiu minha ficha, de repente tudo fez sentido, e continuar a comer carne por mera convenção e comodismo é o que seria limitador (e dor) para mim. Essa clareza me libertou, e é um sentimento que não consigo explicar.
           E ao mesmo tempo, por eu já ter tido uma epifania semelhante na adolescência, é libertador no sentido de eu estar enfrentando meu conformismo e vivendo de acordo com meus valores (e amores). Sabe quando você precisa fazer algo muito, muito importante, mas a preguiça é maior, e você empurra com a barriga pra sempre? Então, com a epifania matei essa preguiça, e tive motivação pra me organizar de forma que a carne não faça falta. E quando falo "faça falta", me refiro somente a níveis nutricionais, pois com a epifania, meu apetite por carcaças sumiu. Não preciso de muito, é só pensar um pouco sobre a origem do que vou comer que já fica muito fácil não comer corpinhos de bichinhos.

sexta-feira, 8 de setembro de 2017

Um amor chamado Banzah

      Com muita dor no coração, hoje tivemos que nos despedir do Ban. Depois de 7 meses lutando contra um câncer muito agressivo no fucinho, depois de muitas quimios, remédios, petiscos, amor, carinho, passeios, visitas, alegrias e mais amor, o Banzah se foi. Deixou um vazio em nossos corações, uma dor absurda. Mas com a dor veio a paz de espírito por saber que seu sofrimento acabou. A paz por saber que agora ele está descansando, e que haja o que houver após a morte, só haverão coisas boas para ele, afinal ele sempre foi um cachorro maravilhoso! Dócil, meigo, carinhoso, companheiro, inteligente, amoroso... O melhor cachorro que já existiu!!!
       Vai deixar muita saudade pra muita gente, ele sempre conquistou a todos e foi muito amado. Descanse em paz, meu amor!












quarta-feira, 6 de setembro de 2017

Diário vegetariano: 2 - O início.


           Hoje, finalmente consigo dizer que não como mais carcaças. 3 semanas me preparando, não psicologicamente, mas logisticamente. No dia da epifania eu tinha um freezer cheio de corpos. 2kg de peito de galinhas, 500g de picanha, 400g de coxão mole, 1 caixa de hambúrgueres, 2 caixas de nuggets, 1 pacote de salsicha, 3 linguiças calabresa. No vegetables, though... Coisas o bastante para sobreviver o resto do mês, obviamente não de forma saudável. Comi nesses dias corpinhos de animais – coitados, sofreram tanto - como comi nos últimos anos. Mas nestas semanas, diferente de antes da epifania, senti dor em cada um deles. Perdi o apetite inúmeras vezes, senti nojo. Nojo de mim mesma, me forçando a comer carcaças, como que me despedindo desse hábito macabro. Nojo da indústria da carne, que “nos faz” engolir morte e destruição como se fosse ok, uma coisa essencial em nossas vidas. Não, não é ok.
           Claro que o plano, a longo prazo, é abolir ovos e laticínios também, porém decidi não cortar tudo de uma só vez pois preciso me adaptar. Como eu sou daquelas que, se bobear, não come nada (ou come muito mal - mês passado vivi por 3 dias comendo só tapioca com queijo. Não recomendo), hoje estou elaborando um cardápio para os próximos dias. Para me ajudar a me alimentar adequadamente, vou ao mercado e, ao invés de comprar de tudo e ver um monte de coisa estragar (como eu costumava fazer), resolvi comprar só o que eu pretendo usar nos próximos dias, economizando e evitando desperdício.

         Pelas coisas que escolhi, percebi que vou comer muito melhor.

sexta-feira, 1 de setembro de 2017

Qual o valor da vida para você?

         Sem dúvidas, chegou a hora de mudar.
         Tenho que viver de acordo com meus valores, caso contrário estarei morrendo todos os dias. Viver morrendo não é para mim. Eu gosto é de viver vivendo, e vivendo muito!
         A conveniência e o conformismo parecem cômodos, mas a longo prazo nos corroem. É muito fácil ceder e aceitar o que vem fácil, e é difícil se reabituar, se reensinar, e se readaptar. Não é fácil negar os costumes, muito menos os prazeres. Mas é essencial colocar a mão na consciência e se perguntar qual o custo deles. Qual o custo? Não só para seu bolso ou sua saúde, mas para o mundo. Não só para o mundo, mas para os indivíduos.
        Para você, aquele hambúrguer é uma delícia, mas ele vem recheado de dor, morte e egoísmo. Dor, morte e egoísmo. Aquele hambúrguer, como se não bastasse ser um animal morto, é um animal morto que teve uma vida miserável, sofreu cada minuto de sua existência, viveu preso, sapateando na própria bosta, entuxado de remédios e antibióticos. Ignoraram suas necessidades, o transformaram num objeto sem emoções. Mas uma vaca não é um objeto. A vaca, o boi, a galinha, o galo, o porco, a porca, eles são animais. São seres vivos que tem emoções. São seres vivos que sentem dor.
         Amor seletivo é complicado. Você morre de amores pelos cachorrinhos abandonados, sofrendo na rua, mas chega em casa e come aquele bifão? E sua consideração pelo bicho que viveu e morreu para você comer? E seu amor, onde foi parar? Eu cansei de ser hipócrita, cansei de dizer que amo a vida, amo a natureza, amo os bichos e continuar me alimentando dos pobres animais. Viver de corpos mortos não é amor. É pura dor.
         Vou sofrer para reeducar minha alimentação? Vou. Mas com certeza vou sofrer menos que todos os animais que já sofreram para estar no meu prato. Vai ser difícil? Vai. Mas viver é difícil. E como tudo na vida, com o tempo fica mais fácil. O importante é que, estando de acordo com minha consciência, eu sei que viverei melhor e com mais leveza. A dificuldade inicial, além de passageira, é supérflua.
          A carne não mais me alimenta. O amor me alimenta, e não a dor. A vida me alimenta, a natureza. Não a morte alheia, nem a tortura ou o sofrimento. E não são só emoções que me fazem ter esta escolha, a razão tem grande papel nesta decisão. Pela minha saúde e pelo mundo!

segunda-feira, 28 de agosto de 2017

Diário vegetariano: 1- A epifania.

          Há duas semanas eu vi um vídeo que me comoveu muito: https://www.youtube.com/watch?v=BZPZD1JV5QQ
          O vídeo é sobre chipanzés que reencontram, 18 anos depois, a mulher que os reabilitou após passarem 6 anos em cativeiro, em um laboratório. 6 anos sem luz do sol, uma vida sem pisar na terra e respirar ar puro. Foi quando eu pensei nos animais amontoados, dormindo, comendo, vivendo e morrendo em espaços minúsculos, literalmente na bosta. Nascem e morrem só conhecendo dor e bosta. Então o que eu sempre soube que iria acontecer, aconteceu: O momento da epifania!     
        Finalmente me vi lutando contra minha hipocrisia e meu egoísmo. Há anos eu decidi fechar os olhos e comer animais mortos como se fosse OK, mas há uma década eu já sabia que não era OK. Em algum momento, de meus anos vegetarianos na adolescência até agora, eu desisti. Desisti e cedi ao fácil. Só a crueldade já seria o bastante para me fazer acordar, mas de alguma forma o desânimo e a desilusão me venceram, e por anos cedi calada. Mas ultimamente tenho refletido muito. Especialmente sobre a morte. A morte e a vida.
         Os últimos anos têm sido anos de amadurecimento, crescimento e autoconhecimento. Foram tempos marcados por dor e morte. Ainda são, com toda a situação do Banzah. É como se eu sentisse, agora, a responsabilidade por todas as carcaças que eu ingeri ao longo de minha vida. Então, simples assim, chegou a hora de mudar! Mas, diferente de como foi quando eu morava na casa de minha mãe, e a santa Vilma fazia almoço todo dia, para cortar os defuntos da minha dieta hoje, eu preciso de planejamento.



        Me parece a corrupção máxima humana, num nível quase diabólico, vivermos desde crianças nos fazendo dependentes de uma dieta baseada na morte. Literalmente, nos alimentando da carcaça de animais. Se você pensar bem, chega a ser macabro.

quarta-feira, 2 de agosto de 2017

Feminismo não é ódio, feminismo é empatia.

         Eu tenho visto uma tendência muito grave nas redes sociais de algumas mulheres inteligentes e feministas agindo como se quisessem se igualar aos machinhos machistinhas bostinhas. Frequentemente vejo algum post foda, relatando algum caso sério (que poderia servir para uma análise mais profunda da situação da nossa sociedade machista e como ela afeta mulheres e homens), e quando vou sedenta aos comentários, vejo várias mulheres atacando aos homens de forma muito generalizada e ofensiva. Sexismo puro. Sabe quando falam que mulher só sabe dirigir fogão? Então, toda mulher sente uma revolta dentro de si ao ouvir essas palavras. Como vocês acham que os homens que tentam ser decentes se sentem quando dizem que TODO homem é fdp, ou que TODO homem é lixo, ou que TODO homem é um estuprador em potencial? A verdade é que as coisas só estão assim pois a sociedade até hoje sempre viu homem como homem, mulher como mulher, gay como gay, negro como negro, enquanto só deveria se preocupar em ver gente como gente. Mas não, muita gente é tratada como lixo, muita gente é menosprezada, subestimada, calada, abusada, maltratada.  Quem não consegue ter essa visão de que somos todos meros humanos, iguais em essência, usa “desculpas” esfarrapadas para seu ódio (“ah, seu viado, vai dar o cu”, “mulher no volante, perigo constante”, etc.).        Quem não consegue sentir empatia por quem é de outra cor, outro gênero, outra orientação sexual, acaba se tornado o tão odiado HATER.
       Quem nasceu com vagina cresceu ouvindo haters hating. Toda mulher já ouviu que seu lugar é na cozinha, mesmo que tenham falado “brincando”. Toda mulher já foi objetificada por homens. Toda mulher já teve medo de ser estuprada ao andar sozinha em algum lugar deserto. Toda mulher cresceu sofrendo lavagens cerebrais, dentre elas de que um filho é responsabilidade maior da mãe do que do pai. Toda mulher já se martirizou tirando as sobrancelhas, fazendo depilação ou aguentando algum evento interminável sobre saltos altíssimos (mesmo que uma vez na vida tenha bastado para aprender que dor nenhuma vale a pena se for SÓ pra ficar mais atraente para a sociedade. Minha avó dizia que às vezes, para a mulher ficar bonita, ela precisa sofrer. Nunca tive a oportunidade de perguntar, mas bonita pra quem?). Enfim, toda mulher já passou maus bocados por causa do machismo e da tendência que nossa sociedade tem em querer calar, ao invés de ensinar, em restringir mentes, ao invés de ampliá-las. Mas isso não dá direito às mulheres de serem cuzonas. Na boa, eu acho muito grave a mulherada dizendo que todo homem é um estuprador em potencial. Ou falando que homem é ruim, homem é egoísta, homem é violento, homem é agressivo...  Muitos homens são tudo isso, assim como eu conheço mulheres agressivas, mulheres más, mulheres egoístas... Enfim, a ruindade, assim como a bondade, é parte do ser humano, e não de um gênero.
         O que podemos analisar é o fato de mulheres e homens crescerem na mesma sociedade machista, uma sociedade que interage de forma preconceituosa com cada indivíduo, prevendo gênero, cor, orientação sexual, renda, linguajar, vestimenta, várias coisas. Essa sociedade (leia-se família, vizinhos, professores, colegas, desconhecidos no metrô, etc.) trata as pessoas, desde bebês, de formas diferentes dependendo do órgão sexual com que nasceram. Meninos crescem tendo que suprir uma cobrança dos pais para serem machinhos machistinhas nojentos.
          É muito comum, desde criança, o pai passar a mão na cabeça do menino “namorador” (o que é ridículo, afinal criança não namora, criança brinca), falar que homem não chora, falar das “vagabundas”, objetificar toda mulher que vê, realçando as “qualidades” pro filhão entender como funciona ser machão machistinha de merda. E quer saber? A maioria dos machos se acomoda. É bem cômodo viver numa sociedade que passa a mão na sua cabeça sempre. Numa realidade em que mamãe vai sempre fazer sua comidinha, até você casar... aí é a “sua mulher” (olha só quanta posse nessa expressão) que vai te alimentar, cuidar de você, das suas coisas, da sua casa, dos seus filhos. E o homem? Ao homem cabe proteger a família, assistir futebol e beber a cervinha depois do trampo, afinal homem também é filho de deus (“amooor, aproveita que você tá na cozinha terminando o jantar e traz uma cervejinha pra mim, traz?”).
          Mas nós, feministas, não nos conformamos com esse “ideal” descrito acima. Graças à muita luta de várias gerações, hoje a sociedade é bem mais suportável para a mulher. Como já disse, continuamos sofrendo assédios (muitas vezes graves), ouvindo piadinhas escrotas, sofrendo imposições estéticas com requintes de tortura, e tendo nossos mamilos ao mesmo tempo censurados e objetificados (apesar de serem exatamente iguais aos mamilos masculinos). Ainda está longe do ideal, mas pelo menos hoje o homem que bate na companheira em casa, quando exposto, é malvisto e pode ir preso. O estuprador idem. (Devemos lembrar que até pouco tempo não existia no Brasil leis que defendessem as mulheres da violência doméstica, e até outro dia os pais de uma menor estuprada podiam obriga-la a casar com o estuprador para manter seu nome “limpo” e evitar cadeia ao criminoso*). Na verdade, ganhamos várias batalhas, e a situação feminina melhorou muito, comparada ao que era.
         Porém, com toda essa revolta (não só histórica, mas por tudo que fomos submetidas desde que nascemos), é preciso tomar muito cuidado para não nos tornarmos “iguais” aos machistinhas de merda que tanto odiamos. Os homens, apesar da criação bem bosta que a maioria teve, são só pessoas. Pessoas, que como nós mulheres, sofreram lavagem cerebral desde que nasceram. A maioria dos homens com quem eu tenho contato está cada vez mais atenta aos seus hábitos machistas, está cada vez mais atenta às injustiças e às merdas que outras pessoas fazem/falam. Essa maioria com quem tenho contato se esforça todo dia pra não ser um machinho machistinha de merda, e se todos os homens se esforçassem assim, a sociedade já seria melhor do que é. Mas ao xingarmos e excluirmos essas pessoas conscientes, estamos excluindo possíveis aliados nessa batalha.
        Pense num homem que tenta ser uma pessoa melhor a cada dia, que trata as mulheres com respeito, que tenta conscientizar os amiguinhos menos esclarecidos sobre suas atitudes machistas. Aí ele está lá, lendo os comentários de um texto feminista fodão com o qual ele concordou com todas as palavras, e se depara com comentários extremamente sexistas, generalizando todos os homens e esquecendo que eles, como nós, são meros humanos, cheios de defeitos, perdidos e aprendendo toda hora.  Aí esse cara legal, cabeça aberta e feminista, se vê colocado no mesmo patamar de um estuprador, de um agressor ou mesmo daquele primo idiota que só fala bosta, pelo simples fato de ter um pênis. Eu, no lugar desse homem, sentiria raiva dessas mulheres. Assim como eu, mulher, sinto raiva das pessoas que falam alguma bosta generalizando as mulheres (como quando meu ex-chefe falou que uma empresa só com mulheres é difícil porque mulher fofoca muito e trabalha pouco. OI?)
         Esse homem, que mesmo entendendo o motivo da revolta das mulheres nos comentários, acaba se sentindo excluído da luta, e pior, sendo visto como o inimigo (sendo que a luta feminista não é contra os homens, e sim contra a sociedade e seus valores ultrapassados). Esse homem, se não for muito resiliente, tende a abandonar o feminismo e voltar à sua posição confortável de machinho – e muitas vezes machistinha. Como isso ajuda a sociedade a se tornar uma sociedade melhor? Não ajuda. Só a estagna nesse momento bem bosta em que vivemos.
         Então, queridas e adoradas feministas, vamos lembrar que nossa luta também é pela empatia, e não é abrindo mão dela ao confrontarmos os homens que vamos melhorar nossa sociedade.






*Uma matéria que me chocou muito quando li há foi uma semelhante a esta, do BBC Brasil: http://soumaiseu.uol.com.br/noticias/solidariedade/fui-obrigada-a-casar-com-o-meu-estuprador-aos-13-anos.phtml#.WYIw0ogrKUk

quinta-feira, 6 de julho de 2017

Poesia tributo à bela poesia que nunca existiu.

Sempre acabo no desabafo,
desinibido e doído,
escarrado e sentido.

A princípio, pensamentos
a mil, sentimentos.
Palavras belas se encaixavam
lindamente, me deleitavam.

Em seguida, num espanto,
deixando só seu encanto,
a poesia, que nunca existiu,
escafedeu-se e sumiu.

E assim, então,
a poesia vem e vai,
linda em pensamento,
mas horrible on the lines.

Gênero é opressão.

          Todos nós somos vítimas de uma sociedade cruel. Cheia de estigmas e de padrões ridículos, esta sociedade nos quebra e nos molda todos os dias, fazendo-nos perder sonhos, envenenando nossas essências e corrompendo nossas almas.
          Desta sociedade que abrange tantos substantivos, um que quebra nossas pernas todos os dias é o machismo. O machismo é um tapa na cara de todos os indivíduos. Nenhum escapa. Somos todos vítimas dele. Mulheres ou homens. Claro que a opressão histórica (e contemporânea) que a mulher sofreu (e sofre) é muito maior (e mais violenta), porém falar que o homem não é vítima do machismo é um grande engano. Qualquer sexismo é prejudicial para todos os gêneros.
          Antes de mais nada, acho importante frisar que a ideia de gêneros, de menino e menina, de homem e mulher, é só mais uma convenção social, uma herança de tempos passados. Hoje já não há a necessidade de diferenciar quem tem pênis de quem tem vagina. Na sociedade de hoje, onde há uma luta constante contra qualquer tipo de opressão, não há espaço para gêneros. Não havendo gêneros, não há orientação sexual, nem seus tabus, e os seres humanos finalmente viram livres para serem pessoas capazes de amar outras pessoas.
          Quando as pessoas tiverem essa liberdade de amar outras pelo que são, e sem o preconceito inicial que o gênero cria, elas também serão livres para se vestir como quiserem, falar e se expressar da forma que quiserem. Ninguém vai ter que se provar macho ou feminino, e todos serão livres para serem quem são, sem julgamentos, expectativas, preconceitos ou estigmas. Pessoas com seios poderão sair sem camisa sem serem sexualizadas, pessoas com barba poderão trabalhar usando maquiagem sem serem ridicularizadas. Se depilar, as roupas e sapatos a usar, e tudo mais, dependerá somente da vontade de cada pessoa, e nossos gostos finalmente não serão moldados por uma sociedade sexista e opressora.
        Sei que isso parece utopia, mas não precisa ser. Depende só do que vamos passar para as próximas gerações. Sonho com um futuro no qual crianças consigam crescer livres desses estigmas, possam brincar do que bem entenderem, e se vestirem como se sentirem melhor. E que adultos mantenham essa mesma liberdade.

        Mesmo sabendo disso tudo, com frequência me encontro lutando contra mim mesma. Um exemplo: Tenho tido vontade de cortar meu cabelo bem curtinho, mas sempre que cogito essa ideia, me flagro pensando na importância, então, de começar a me maquiar, como que, inconscientemente, querendo compensar a falta de feminilidade do corte. Mas isso, na verdade, é um absurdo! Afinal, meu cabelo, maquiagem ou minha aparência, não importam - ou pelo menos não deveriam importar. E assim, nossa essência - que é o que importa - se perde todos os dias, quando aceitamos nos moldar a esta sociedade vil, por mero medo de nos expormos.

terça-feira, 13 de junho de 2017

Contempt poem.



No subjects interest me.
I seek for the vain.

But why?
Why does the easy consummate us?
And still, why doesn't the silly stand and why is the easy so hard?

I want to write the practical, I want to write what they want to read.
It kills me,
It hurts me.
It is not who I want to be.

I want to write about life,
about what I know and what I don't know.
I want to write poems,
Many stories I'll show.

The people are vain,
but the skies are blue.
Os ratos corroem a sociedade.
The rats are you!


They lie, they lie.


I can write,
I can feel.
Perhaps I only need to improve my will.

I can write about anything,
I can sing almost everything.
It all connects someway,
But how I cannot say.
Not now, anyway.

Doesn't matter!
You better go back to your pray.

You come along with my major changes.

quinta-feira, 1 de junho de 2017

Cultura do Estupro.

          Um conhecido me disse uma vez que a cultura do estupro não existe no mundo ocidental ou ocidentalizado. Ele me disse que o estupro é contra a lei, logo não tem como ser algo cultural. Ele me disse também, em outra ocasião, que havia uma menina na escola dele, que até era legal, mas que foi taxada de vadia e vagabunda porque um dia ela saiu com os amigos, ficou muito bêbada, e deu pra todos, rolou a maior putaria. Os ditos “amigos” da menina saíram contando a história pela escola, contando inclusive que ela estava alucinada, e nem sabia o que estava fazendo de tão louca. Agora péra. Só eu acho que a menina foi estuprada? Pois se ela realmente estava tão louca assim, não existe consentimento aceitável. Belos amigos, hã? Como se estuprá-la já não fosse bosta o bastante, ainda criaram o estigma de “vadia” pra ela, um estigma que 10 anos depois ainda é lembrado. Uma menina adolescente em pleno desenvolvimento emocional é forçada a passar por isso, e todo mundo dá risada? Pior, todo mundo aceita. Os estupradores saem lindos na história, e a vítima é excluída em seu meio social. “Ahh, mas a menina nunca falou que foi estuprada!”  Ok. E daí? A pessoa que apanha do companheiro em casa toda semana, há anos, e não fala pra ninguém por medo, insegurança, amor, ou qualquer motivo que seja, não é vítima de abuso em sua própria casa? Só porque ela não anuncia esse abuso, ele não existe? Calma lá, né?! 
            Agora, vamos pensar... estupro é ilegal, estupradores são mal vistos na sociedade, dizem que até na cadeia estuprador sofre mais. Legal, estupro não é bem aceito. Muito bom. Mas então, como que um grupo de rapazes fazem sexo com uma menina que está tão bêbada que não sabe nem o que está fazendo (ou seja, a estupram), e saem contando pra todo mundo, como se fosse algo a se gabar? Pra mim fica claro que esses meninos não se identificavam como estupradores. Se identificavam como sortudos que acharam uma mina fácil. Não identificaram a situação como estupro, pra eles era a ordem natural das coisas.
            Então é assim? Rola um estupro em grupo, os estupradores se gabam do estupro para seu meio social (no caso, os colegas de escola), a vítima é marginalizada (excluída em seu meio, e sofre preconceito), as pessoas escutam a história e não conseguem identificar o estupro, e não existe cultura do estupro no Brasil? Por isso que acho muito importante a divulgação de informação que a internet e as redes sociais nos proporcionam, pois as pessoas precisam aprender a identificar essas situações. Se aqueles meninos tivessem tido contato com essas informações, e conseguissem identificar a situação em que estavam, talvez o estupro não tivesse acontecido. E se tivesse, eles provavelmente não se gabariam disso na escola, e saberiam que são estupradores. A vítima saberia que foi estuprada, e talvez fosse acolhida ao invés de excluída.
          Ainda se esse caso de estupro grupal considerado proeza masculina fosse o único, seria menos mal. Mas não. Na minha realidade, além desse que me foi contado, já soube de outros 2 estupros grupais, envolvendo pessoas conhecidas, nos quais as vítimas foram taxadas de vagabundas e os estupradores de machões comedores boazudos. Fora os outros inúmeros casos que acontecem, alguns aparecem no jornal, outros as redes sociais nos mostram. O caso é que a cultura do estupro existe sim, e precisa ser combatida. E ela está presente em todas as classes sociais. Conscientização é o primeiro passo. Treinar empatia é o segundo.

         Cada um tem a sua realidade. Isso é fato. Empatia é a capacidade de se colocar na realidade de outra pessoa, e identificar como essa pessoa deve se sentir em relação a determinado circunstância. Hoje em dia ninguém mais exercita a empatia. Não sou médica ou pesquisadora, mas me parece que quando exercitamos a empatia, exercitamos uma região específica do cérebro, uma região que se fortalece conforme exercitada, já que o cérebro é um músculo, se tornando mais fácil acessá-la com o tempo. Ao meu ver isso faz muito sentido, pois percebo em minha realidade que pessoas que foram ensinadas a exercitar a empatia desde crianças, sentem muito mais facilidade em se colocar, de fato, no lugar de outra pessoa e sentir, de fato, o que é provável que a pessoa esteja sentindo. Ensinem seus filhos, desde criança, a se colocarem no lugar de outras pessoas.  Faz bem pra eles e faz bem pro mundo.


Edit 06/09/2017: Alguns dias depois de postar este texto, fiz uma observação no face que virou um texto por si só, complementando este. Segue abaixo:





          Tem gente que acha que a cultura do estupro não está presente no Brasil. Tem gente que acha que a cultura do estupro só existe no mundo oriental, que só a ISIS propaga essa cultura. Tem gente que acha que até existe cultura do estupro no Brasil, mas que ela se mantém na periferia, que a classe média não aceita essas coisas.
          Refletindo sobre esse tema, escrevi um texto tentando mostrar às pessoas como essa cultura do estupro ainda existe, e mais perto do que pensamos.
          À quem tiver interesse de ler o -outro- texto, deixo o link aqui nos comentários. À quem acredita que a cultura do estupro está extinta, peço que reflitam e que respondam a si mesmos algumas perguntas: Quando vocês eram adolescentes, houve alguma história de alguma menina que ficou muito louca e vários meninos "pegaram"? Essa menina ficou taxada de vagabunda?
         Sei de ao menos uma história assim, só no meu condomínio. A menina, que estava muito bêbada, foi largada no lago do condomínio, depois de ao menos 3 terem abusado dela. A história foi contada como se ela fosse a vadia e os estupradores os fodões. Nada foi feito.
          Na minha escola, desde a minha quinta série até a sétima, uma colega sofreu abusos diários, pois era a menina com o corpo mais desenvolvido da turma. Os meninos passavam a mão em seus seios e bunda, sem autorização. Eles apertavam seus seios e a chamavam de leiteira. Ela não sabia como reagir, e com o tempo começou a achar que esses atos de abuso eram sinais de que eles gostavam dela. Novamente, nada foi feito.
           Alguns desses mesmos meninos, na sexta série, se masturbavam em sala de aula durante as aulas de matemática (na qual havia uma professora que achavam "gostosa"). Eles eram nojentos. Eu, que sempre fui crítica e nunca fui de me calar, não aceitei aquilo, e fiz o que senti que podia fazer: contei para a professora. O que aconteceu? Alguns meses depois ela saiu da escola. E os meninos? Impunes. Eles, meninos de 12 anos, precisavam de orientação. Houve alguém que explicasse o que estavam fazendo e abrisse seus olhos? Não. Não aconteceu nada. Gente, isso é inadmissível!!!
          Agora vocês se perguntam onde estava a coordenação enquanto essas coisas aconteciam? Bem, a coordenadora da época, uma baita incompetente, estava com implicância comigo, me acusando de promíscua, dizendo que eu me insinuava pros meninos e fazia strip-tease. Esses boatos - que a coordenação iniciou - fizeram até com que mães de amigas as obrigassem a se distanciar de mim. Algumas acataram e se distanciaram, outras são minhas amigas-irmãs até hoje. Mas resumindo, enquanto os meninos abusavam sexualmente de uma aluna (se pensar, de uma professora também) e nada foi feito, eu fui taxada de "puta" pela própria coordenação, por mera implicância (pois até "bv" eu era). E isso não é a cultura do estupro mostrando as caras novamente?
         Eu não acredito que esse tipo de postura de assédio e abuso seja da natureza do homem, mas sim que esses meninos (hoje homens) não foram bem educados durante a infância. A mídia já destrói as mulheres, as mães e os pais precisam intervir e ensinar RESPEITO. Crescemos com mulheres sendo objetificadas na TV, bunda rebolando pra todo lado. Se as mães e os pais não dão a educação necessária em casa, os meninos crescem mesmo vendo as meninas e mulheres como objetos. Não conseguem se por no lugar delas, não tentam sentir o que elas devem estar sentindo. Empatia precisa ser ensinada, e cabe aos pais dar esse ensinamento aos filhos.

-sim, o que era pra ser uma pequena observação, virou um texto por si só. Mas há muito a se falar, e se calar é aceitar. Eu não aceito, e realmente acho que a conscientização é o canal pra melhorar a situação. Acredito de verdade que muitos estupros acontecem e os próprios estupradores não percebem que são estupradores, pois são acolhidos por essa cultura que aceita e cala. Eu não aceito, e eu não vou calar.

quinta-feira, 13 de abril de 2017

Angústia

        Venho com muito pesar no coração informar uma situação horrível pela qual estamos passando. É inaceitável! É tão absurdo que beira o ridículo! Por favor, leiam até o fim e compartilhem. Isso não pode ficar assim!

         Quem me conhece sabe que sempre tive animais e sempre cuidei com todo amor, afeto e carinho possível. Quem me conhece sabe que meus cachorros são mais que bichinhos de estimação, são meus filhos, meus companheiros e meus amores. E quem me conhece também sabe que meus dois filhos caninos têm liberdade pela casa e pelo quintal, e que a cama deles é na sala ao meu lado.

        Bem, contarei este caso horrendo do início. Recentemente descobrimos que um de nossos cachorros, o Banzah (pitbull conhecido como o cachorro bonzinho) está com um câncer agressivo na narina direita. Depois de realizar diversos exames, foi constatado que o sarcoma é incurável, porém que ele não está sentindo dor, e que com quimioterapia conseguiríamos prolongar sua vida com qualidade e sem sofrimento. De acordo com a veterinária, que é madrinha e tia de meu marido, ele poderá viver feliz por aproximadamente seis meses, e quando a questionamos sobre a possibilidade de adotar uma bebê canina para animá-lo, ela disse acreditar que pela personalidade dele, um filhote seria uma ótima companhia, tanto para ele quanto para o Johnny, que cresceu com o Banzah e ficaria sozinho quando ele se for.


       Então, passamos a procurar uma bebê para adotarmos. Decidimos que gostaríamos de pegar uma fêmea filhote, filha de pais grandes. Postei as nossas expectativas para a mais nova moradora da casa em diversos grupos aqui da região onde moro. Como que caindo dos céus, entramos em contato com uma moça que havia resgatado uma cadelinha Sem Raça Definida, quando prenha de um - supostamente - Dogo Argentido, e que os filhotes estavam completando 45 dias. Haviam duas fêmeas para adoção, e a dona delas, com o coração aberto, as trouxe aqui em casa dia 11/04/2017, para as conhecermos. Logo nos apaixonamos pela Zelda, esta que vocês podem ver no vídeo. Como a dona gostou de nós e do nosso espaço, depois de questionar sobre nossa disponibilidade de tempo, sobre o espaço em que os cães podem frequentar da casa (todos) e sobre nossa experiência em criar cachorros, ela nos entregou a bebê e disse estar muito feliz com a adoção. Continuamos trocando mensagem à noite, pois ela queria saber se a Zelda estava bem e se os dois lindões a haviam aceitado bem. Como vocês podem ver no vídeo também, eles fizeram a maior festa para ela. O Banzah parecia um filhote de novo, chamando ela pra brincar e a enchendo de beijos. Foram cenas lindas, de emocionar.


        Ficamos, nós cinco (eu, meu marido, e os três filhos caninos, incluindo a Zelda), muito bem com ela aqui. Dormi na sala dividindo um colchão de casal com ela e com os outros dois, todos felizes. Ela me encheu de beijos e mordiscadas de amor a noite toda, o que resultou numa noite acordada para mim, me sentindo a pessoa mais amada deste mundo. Nos apegamos uma à outra e criamos um laço de amor lindo, em apenas uma noite.


        Agora começa a segunda parte triste: na manhã seguinte, dia 12/04 (ontem), às 10h da manhã, recebi o telefonema de uma mulher. Ela mora aqui perto de casa, no mesmo bairro, e havia fornecido lar temporário à mamãe e aos filhotes. Porém os cães não são dela, são da moça que nos doou, o que ela negou. Ela me disse que a filhote era dela, que a moça que me doou só a estava ajudando, que as vacinas encomendadas para a ninhada haviam chegado, e que ela fazia questão de vaciná-la o quanto antes. Falei que não era necessário, que logo depois do almoço a levaria na clínica dos tios de meu marido e faríamos um check-up, assim como a vacinação. Falei para ela se tranquilizar pois eles são excelentes veterinários, e fariam tudo que fosse necessário. Ela insistiu, e mesmo eu falando que eu fazia questão de levar eu mesma, ela começou a bater aqui em casa (como ela conseguiu o endereço já não sei). Quando vi, ela era uma senhora idosa, e eu que sempre tive muita empatia por todos, acabei dando um voto de confiança e permitindo que ela a levasse para vacinar com a condição de que ela se comprometesse a trazê-la de volta até às 14h, pois eu ainda a levaria para fazer o check-up de qualquer forma, vacinada ou não. Ao meio-dia, liguei para ela para saber como a bebê estava, e ela me disse que achava que ela estava doente pois estava muito amuada e tristinha. Meu coração se partiu. Eu sei que ela me adotou tanto quanto eu a adotei, e sei que sua tristeza era por não estar mais aqui, afinal ela tinha ficado bem e feliz o tempo todo em que esteve comigo e com seus novos irmãos, e só chorou na hora que eu a entreguei à esta mulher. Pedi para ela trazê-la o quanto antes, pois se ela estava amuada eu queria leva-la o mais rápido possível na clínica. Ela se negou, falou que só devolveria a bebê quando ela se alegrasse. Me disse que ela estava com febre e possivelmente morrendo. Vocês podem imaginar meu estado ao ouvir isso. Falei que iria até lá para vê-la e leva-la correndo aos veterinários, mas ela se negou em me dar o endereço. Ela começou a gritar comigo dizendo que eu não iria mais ficar com minha filha, e desligou o telefone na minha cara.


        Desesperada, entrei em contato com a moça que nos doou a Zelda. Ela ficou inconformada com a situação, deixou bem claro que a mãe e os bebês são dela, que essa amiga só disponibilizou o espaço. Ao ouvir que talvez a bebê Zelda estivesse doente, de prontidão passou lá e a pegou para levar na sua veterinária de confiança. Foram feitos exames de sangue que comprovaram que ela está saudável. A dona dos cães me disse que a traria de volta às 17h30 com o resultado do exame. Porém, quando ela foi lá buscar minha filha, a mulher não a recebeu, fingiu que não estava em casa. Depois de mais de uma hora lá batendo e esperando, essa moça que nos doou a Zelda acabou desistindo e indo para casa, e me explicou a situação. Nesta altura do campeonato descobri que ela mantém mais de 50 cachorros presos num espaço de um terreno pequeno, contendo uma casa e diversos “canis”. Muitos desses cães presos em cubículos de 2x2. Foi constatado através de conhecidos dessa mulher que ela é acumuladora compulsiva de animais, e que ela não tem condições financeiras ou emocionais de cuidar de todos. Foi constatado que ela depende de ajuda de terceiros para que os animais não morrerem de inanição. Isso é desumano, e minha filha está lá presa neste inferno. Ainda assim, conversei com a dona original, a pessoa que nos doou a bebê, e ela me disse que assim que acordasse hoje, iria lá buscar a Zelda para trazê-la de volta pra casa. Ao perceber que não havia nada que eu pudesse fazer naquele momento, depois de uma noite em claro e estômago vazio (no momento que entreguei a Zelda para “ser vacinada”, meu apetite foi junto), resolvi aceitar e esperar o dia amanhecer.


        Depois de mais uma noite mal dormida, desta vez não por excesso de amor, mas por dor no coração e saudade da minha bebê, logo às 6h da manhã já mandei mensagem para a moça dona dos cães, dizendo que ela podia passar o quanto antes para deixar a Zelda. Algumas horas depois, recebo uma resposta pedindo para eu ligar em sua casa. Liguei e descobri que ela foi até a casa dessa mulher que sequestrou minha filha, e que a mulher se negou a entregar a Zelda para ela e ainda fechou o portão em sua cara.
         Estou devastada, preciso resgatar minha bebê daquele lugar horrível. E mais, é preciso denunciar essa mulher por maus tratos, pois é inadmissível ela manter tantos cachorros presos e mal alimentados. Preciso da ajuda de vocês compartilhando este post para nos mobilizarmos e conseguirmos resgatar essas vítimas. Resgatar e dar lares para elas, pois não é justo os animais sofrerem mais ainda.
        Tentei realizar um Boletim de Ocorrência por furto hoje, porém o homem que nos atendeu se recusou a fazer o B.O, disse que foi apropriação indébita o que a mulher fez, e que "com tanto bandido solto na rua acha que vamos deslocar viatura pra resgatar cachorrinho?".
Chegando em casa e contando o caso aos próximos, uma amiga me mandou o seguinte:

“Apropriação indébita é o crime previsto no artigo 168 do Código Penal Brasileiro que consiste no apoderamento de coisa alheia móvel, sem o consentimento do proprietário. Diferencia-se do furto porque, no furto, a intenção do agente de apropriar-se da coisa é anterior à sua obtenção, enquanto que, na apropriação indébita, o objeto chega legitimamente às mãos do agente, e este, posteriormente, resolve apoderar-se do objeto ilicitamente, ou seja, a apropriação indébita ocorre quando o agente deixa de entregar ou devolver ao seu legítimo dono um bem móvel ao qual tem acesso - seja por empréstimo ou por depósito em confiança.”

       Nessas horas vemos como nossa ignorância pode nos prejudicar, pois acreditei naquele indivíduo cheio de má vontade e saí da delegacia aos prantos, me sentindo muito impotente e injustiçada.

       Realizei denúncias de maus tratos em ONGs de defesa aos animais (não posso fazer um B.O pois não tenho fotos ou vídeos que provem a situação precária dos pobrezinhos). A mobilização é necessária para que atitudes sejam tomadas para acabar com a dor desses animais. Eles merecem um lar decente. E não aceitarei a opção de ficar sem a Zelda. Ela foi adotada por mim e é inaceitável esse sequestro. Eu e meu marido já nos prontificamos a adotar a irmã da Zelda também (que, se vier, se chamará Dota). Não podemos resgatar mais pois não teríamos condições, e não me comprometo a algo que não eu não posso cumprir. 

      Edit 06/07/2017: Recuperamos a Zelda 2 dias depois de postar este texto no facebook, e graças à ele. Uma amiga da mulher que sequestrou a Zelda (e advogada da causa animal) conseguiu intervir e convencer a mulher de que era melhor devolver a baby antes que as coisas crescessem. Ela afirmou que a mulher era a dona original e que quem me entregou a puppy não poderia ter doado sem autorização dela. Tudo meio mal contado... Mas enfim, contanto que tirássemos o texto do face, devolveriam a Zelda.  Parando pra pensar agora, quase 3 meses depois, cena de sequestro total! Combinamos que o resgate seria pago no ato da entrega da bebê. Combinamos na manhã de sábado (15/04), eu mal podia aguentar a ansiedade. Galera da Maior estava aqui em casa para curtir o Banzah, e mesmo eu tendo ido dormir de madrugada, às 7 da manhã pulei da cama e fiquei na espera.         Só de lembrar daquela ansiedade, eu tremo! Me enrolaram até às 12h40. Como que pra comprar meu silêncio, me chegam com aquela cachorrinha linda, num vestidinho amarelo deplorável. E naquele calor! Enfim, conseguiram. Não com o vestido, claro, mas com o tiro que deram em meu espírito, dor inacabável depois de dias sem dormir direito, sem comer direito, sem sorrir direito.
        Finalmente Zelda em casa, inevitavelmente texto deletado, incontestavelmente uma cicatriz em meu âmago. Todos felizes, se não fosse o fato de eu sentir que me vendi para o sistema. Depois de tudo que aconteceu, quando a Zelda voltou eu só quis sumir e esquecer o que havia acontecido. Até hoje, quando passo em frente a casa dela (rarissimamente) e ouço aquela gritaria canina, meu coração aperta e engulo amargo o gosto da corrupção.