quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Depois de mais uma noite mal dormida...

Ela sempre voltava pra casa. Não gostava, não queria, mas sempre voltava.
Algumas vezes, não muito raras, a princípio não se arrependia. Quando o farol de seu carro iluminava o canto abandonado e vazio onde aquele carro capenga (o qual ele dirigia com tanto orgulho) deveria estar - e não estava, já sentia um leve conforto e alguma esperança de poder finalmente ficar na sala com sua mãe, conversar e, se desse sorte, até mesmo ver um filme.
Quando ele ficava até altas horas no bar, com seus tão queridos companheiros, "amigos de verdade", ela se sentia leve, feliz e à vontade. Não pela desgraça disso tudo, mas somente pela ausência dele, o que ela tanto prezava. Claro, esses sentimentos a invadiam rodeados de culpa, e assumí-los era difícil, mas quem podia culpá-la? Tudo que queria era sua paz, e quando a tinha, se felicitava. Mesmo sabendo que no fundo preferia poder chamá-lo de pai sem sentir nojo, desprezo. E mesmo sabendo que ele iria voltar.

Ele também, sempre voltava.

Essa era a pior parte da noite. Claro, enquanto ele não aparecia, ela não desgrudava de sua mãe, aproveitava cada precioso momento a sós como se fosse único, o último, com conversas, idéias, perguntas e risadas.
E claro, quando ele voltava, bêbado e amargurado, por mais distante que ela estivesse, não conseguia desprender a atenção das conversas (as quais na maioria das vezes era muito fácil de ouvir, já que eram aos berros), sempre se assustando com o silêncio e sentindo medo. Medo da loucura daquele, dito pai, estar fora de controle. Medo de seus berros e de sua violência. Um medo maldito que a acompanhava até mesmo em seus sonhos.
Porém sabia que só sentia medo pois nunca soubera de ele ter batido em sua mãe, só sabia das coisas quebradas pela casa. Sabia que dificilmente ele tocaria um dedo nela (enquanto a loucura estivesse "controlada") e sabia que se ele ousasse, o medo que ela sentia sumiria facilmente, sendo substituído por uma ira incontrolável que definitivamente seria devastadora e descontrolada, provavelmente terminada em morte. E era por isso que tinha tanto medo.
A pior coisa de tudo isso é que ela sabia que ainda não havia como essa situação mudar. Ele não tinha pra onde ir, não tinha dinheiro e nem como se sustentar. Por enquanto continuaria em sua casa. E continuaria bebendo, gritando, xingando e quebrando coisas. Porém quanto mais tempo passava, intimamente mais ela acreditava que tudo se resolveria. Ela via que sua mãe não o amava mais, e ela sabia que tudo que faltava era tempo e dinheiro.
Então ela se contentou em, ao menos por um tempo, se empenhar somente em tirá-lo de seus sonhos, e tentar idealizar uma imagem dele longe, distante, constante e muito, muito mais amigável.
Por enquanto isso bastava.



Por enquanto.


Qualquer semelhança com fatos reais é pura coincidência. Narração meramente fictícia. E sim, uso trema e usarei até o final do ano. A lei que me impeça!

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Mais um desses....

Tenho estado muito, muito deprê essa última semana. Não sei o porquê, mas gosto de culpar TPM. Dores de cabeça, cólicas, mal-humor... Típica TPM. Depressão também. Por que não?
Mas o que mais fode com tudo é minha vontade absurda de escrever e a incapacidade que tenho sentido quanto a isso. 
Coisas acontecem, pessoas passam, sons se revelam... Cada suspiro tem uma linha em um texto pré-fabricado, bem lá no fundo de meus pensamentos... Naquele lugar empoeirado e sujo, que evitamos ao máximo. Aquele mesmo lugar em que poesias já escritas e jogadas fora se auto recitam em silêncio. Naquele mesmo lugar em que guardamos palavras não ditas e rancorosas de momentos frustrados. Naquele mesmo lugar em que aquela frase tão boa e marcante está esquecida. Enfim, aquele canto do cérebro quase que ignorado, onde as melhores idéias se escondem, fingindo querer serem achadas, mas na verdade com muito medo de serem expostas. 
É, isso acontece com freqüência com minhas idéias, meus textos semi-prontos, cartas mentalmente escritas, conversas inventadas, cores misturadas, movimentos retratados, momentos visualmente fotografados... enfim, com tudo que poderia virar algo com o que se valesse a pena gastar 5, 10, 30 minutos de um dia vazio.
Gosto de culpar a TPM. "É, eu sei... não posto há dias... mas sabe, ? TPM, canseira... Quem sabe semana que vem?" Sempre funciona! Sempre. Por que abandonar um "argumento" que funciona tão bem? Hã? 
Te digo o porquê. Porque é um argumento vazio! TPM, depressão, dor... Tudo pode virar poesia. Tudo pode se transformar em arte. Talvez não seja a TPM o que me atrapalha tanto, mas sim minha incapacidade de assumir que não sou perfeita, que não sou uma máquina de escrever ambulante. Ok, talvez eu até seja, mas definitivamente nem sempre tenho papel ou tinta, e com certa freqüência sofro de teclas, letras, quebradas...
Porra, talvez seja a hora de evoluir e virar um notebook... Ou não, quem sabe comprar um não resolva meu drama? Assim, sempre que um daqueles pensamentos mentalmente escritos e organizados, prontos pra se tornarem um bom texto, virem à tona, é só digitá-los e salvá-los em um HD melhor, menos sujo e empoeirado que o meu canto sombrio cheio de idéias...
É, quem sabe...?




Esse é dedicado ao Pinto, simplesmente pelo fato de ter sido o primeiro a ler e ter me agüentado enquanto eu tinha um ataque, escrevia como uma retardada bitolada e desligava a tela do PC quando ele se aproximava, dando chiliques como "Ah, odeio que me olhem enquanto 'crio'!!!"... hehe


Edit 17/08/2017: Naquela época eu ainda não sabia, mas tudo que eu queria era um smartphone.

Vida

Tem certas coisas que simplesmente acontecem...
Tem certas coisas que não conseguimos entender...

Pro inferno com essas coisas, e "ai" de quem questionar minha capacidade de compreensão!

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Ficção

Olhando pela janela, nada via a não ser aqueles belos campos, com a mais linda luz que o sol, preparando-se para se por, poderia oferecer. Tudo estava calmo, as árvores e as plantações moviam-se levemente ao soprar suave da brisa.
Seu rosto estava tranqüilo e relaxado. Quem a visse, sentada à janela, somente pensaria que estava a admirar a bela paisagem. Porém sua mente estava acelerada, e pensava em muitas coisas ao mesmo tempo.
Sabia que naquele instante a ignorância predominava em algum lugar da vila. Sabia que não haveria o que fazer, e nem pra onde fugir.
Sentia medo, mas seu maior sentimento era pena daquelas pessoas ignorantes que deixavam-se levar por sua crença estúpida em um deus vingativo.
Sua consciência estava limpa. Nunca havia feito mal a ninguém, e sempre ajudou a todos que pode. Seu maior mal havia sido questionar aquela religião perversa e cultivar um amor maior pela vida que pelo deus católico.
O sol começou a se por. Em breve seria possível ver a multidão se aproximando.
Silêncio total, quebrado pela sua respiração arfante. Nenhum animal se manifestava. Estava claro que eles se aproximavam.
Poucos instantes depois já era possível ouvir os rugidos raivosos daquelas pessoas que nunca haviam demonstrado ódio por ela. Eles tinham fogo, e eram muitos. Na frente, guiando-os, vinha o dito sacerdote cristão. Gritava fervorosamente mentiras e falsos pecados, incentivando-os a avançar. Em seus gritos ele dizia que seria um pecado imperdoável deixá-la viver, e que Deus os puniria por isso.
A pena que ela sentia aumentou, e tudo que foi capaz de fazer foi soltar um suspiro que pairava entre a indignação e a piedade.
Os instantes se passavam e ela sabia que a hora se aproximava. Não havia o que fazer. Levantou-se a abriu a porta, em uma tentativa de evitar maior destruição. Voltou a sua cadeira e, com seus olhos fechados, tentou se desligar dos gritos e xingamentos. Respirando muito devagar, deixou-se levar pela energia que a dominava. Bebeu daquele liquido amargo e forte que há tantos dias preparara e deixou-se relaxar.
Segundos depois suas janelas foram quebradas e sua casa invadida. Para a decepção do povo, encontraram-na ali inconsciente. Morta? Talvez não, mas certamente sem consciência alguma do que se passava.
Obviamente isso não os impediu de queimá-la viva na fogueira já armada mas, definitivamente, a falta dos gritos agoniados tirou a maior parte do prazer que eles tinham em matar e nome de seu Deus.

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

10 minutos da Revolução Francesa



Silêncio total. Os únicos sons existentes eram a respiração apreensiva do povo e os passos incertos daquele que, há tão pouco tempo, fora rei.
Ruas sujas, dia sombrio. Com um capuz preto sobre seu rosto, andava aos tropeços pelas ruas desregulares, aquelas em que nunca havia pisado. Por sinal, aquelas mesmas ruas que tanto desprezara no auge de sua arrogância e de seu poder.
Passara os últimos dias preso, esperando por seu julgamento. Agora, considerado culpado, ia à guilhotina.
Um homem corpulento ia ao seu lado, empurrando-o entre aquela multidão incrédula.
O tempo parecia não correr. Sentia que a cada passo sua vida se desfazia. Uma vida tão luxuosa, tão rica e sempre tão arrogante, agora estava a se dispersar.
Finalmente a guilhotina. Obrigaram-no a ajoelhar-se perante a Morte, obrigaram-no a posicionar-se desajeitadamente na guilhotina. Fedia, tanto a guilhotina como ele mesmo. Um cheiro que havia sentido muito nos últimos dias(ou seriam semanas, meses...?). Cheiro de morte, de podridão.

A hora chegara. A qualquer instante aquela lâmina separaria sua cabeça de seu corpo.
O frio da lâmina mal tocou sua nuca e percebeu o sangue jorrando, aquecendo seus últimos segundos de vida. Logo em seguida, já sem entender nada, sua cabeça foi levantada, exposta ao povo. A última coisa que percebeu foram rugidos de alegria.

Adaptação da narração que o professor Vínicius nos contou sobre e Revolução Francesa.
Pensei em postar junto a parte do jogo do Corinthians na última Libertadores, mas resolvi ser legal por hoje.

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Enquanto isso, no cursinho...

"Uma das revoltas mais legais de todas! Não tem líder, não tem ideologia. É só raiva mesmo!"
       -   Professor João sobre Revolta Das Vacinas

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

A falta que faz

Constantemente ela se sentia vazia. Constantemente ela buscava alguém pra amar, acreditando que isso a preencheria. Diversas vezes saiu sem rumo, em busca de companhia. Diversas vezes acordou em camas desconhecidas, ao lado de homens que mal conhecia. Sempre pensava: "Será que é ele quem eu procuro?". Sempre se decepcionava: "Não, não é ele...".
Parecia que essa era uma busca impossível, e a cada homem com quem se relacionava, maior era sua frustração, a solidão e o vazio que sentia.
Depois de muito tempo ela finalmente compreendeu que não era alguém para amar que ela buscava, mas sim alguém que a amasse independente de suas histórias, de seu passado ou de seus defeitos. Logo no começo ela percebeu que isso dificultaria ainda mais a busca. Nem mesmo ela sabia se amava a si mesma, como esperar isso de outra pessoa?
Ao mesmo tempo, ela sabia que tinha vários amigos, tanto falsos quanto verdadeiros. Se eles gostavam dela, talvez não fosse impossível achar alguém que a amasse.
Desde então, com muitos homens ela dormiu, sempre tentando agradá-los, sempre tentando se convencer que mais cedo ou mais tarde encontraria a pessoa que procurava.
Muito tempo se passou, e seus métodos eram sempre os mesmos: um pouco de conversa, um pouco de álcool e, inevitavelmente, sexo.
Claro que ela fazia porque gostava de sexo, claro que ela podia transar com quem bem entendesse. Mas o que ela demorou a entender é que antes de fazer e gostar de sexo, antes de gostar de alguém, e antes de ser amada, ela precisava amar a si própria, se valorizar, para então poder se entregar verdadeiramente a alguém e receber isso de volta.
Tudo que faltava em sua vida era amor. Não pelos outros, mas por si mesma.

Simples seria

Eram palavras leves e sussurradas, como a fumaça fina de um cigarro, inalada através do trago.
Já era mais que hora daquilo ser dito, mas ainda não era hora de ser compreendido.
Compreender aquilo significava romper barreiras e ir contra a razão. Tantas coisas podiam ser facilmente ignoradas. Mas a razão? Não, não era fácil de ignorá-la. A razão é como o chão, sólido sob seus pés, o impedindo de cair. Não queria abandoná-la, mesmo sabendo que isso implicaria em demorar mais a compreender aquelas palavras doces: amo você.