quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Ficção

Olhando pela janela, nada via a não ser aqueles belos campos, com a mais linda luz que o sol, preparando-se para se por, poderia oferecer. Tudo estava calmo, as árvores e as plantações moviam-se levemente ao soprar suave da brisa.
Seu rosto estava tranqüilo e relaxado. Quem a visse, sentada à janela, somente pensaria que estava a admirar a bela paisagem. Porém sua mente estava acelerada, e pensava em muitas coisas ao mesmo tempo.
Sabia que naquele instante a ignorância predominava em algum lugar da vila. Sabia que não haveria o que fazer, e nem pra onde fugir.
Sentia medo, mas seu maior sentimento era pena daquelas pessoas ignorantes que deixavam-se levar por sua crença estúpida em um deus vingativo.
Sua consciência estava limpa. Nunca havia feito mal a ninguém, e sempre ajudou a todos que pode. Seu maior mal havia sido questionar aquela religião perversa e cultivar um amor maior pela vida que pelo deus católico.
O sol começou a se por. Em breve seria possível ver a multidão se aproximando.
Silêncio total, quebrado pela sua respiração arfante. Nenhum animal se manifestava. Estava claro que eles se aproximavam.
Poucos instantes depois já era possível ouvir os rugidos raivosos daquelas pessoas que nunca haviam demonstrado ódio por ela. Eles tinham fogo, e eram muitos. Na frente, guiando-os, vinha o dito sacerdote cristão. Gritava fervorosamente mentiras e falsos pecados, incentivando-os a avançar. Em seus gritos ele dizia que seria um pecado imperdoável deixá-la viver, e que Deus os puniria por isso.
A pena que ela sentia aumentou, e tudo que foi capaz de fazer foi soltar um suspiro que pairava entre a indignação e a piedade.
Os instantes se passavam e ela sabia que a hora se aproximava. Não havia o que fazer. Levantou-se a abriu a porta, em uma tentativa de evitar maior destruição. Voltou a sua cadeira e, com seus olhos fechados, tentou se desligar dos gritos e xingamentos. Respirando muito devagar, deixou-se levar pela energia que a dominava. Bebeu daquele liquido amargo e forte que há tantos dias preparara e deixou-se relaxar.
Segundos depois suas janelas foram quebradas e sua casa invadida. Para a decepção do povo, encontraram-na ali inconsciente. Morta? Talvez não, mas certamente sem consciência alguma do que se passava.
Obviamente isso não os impediu de queimá-la viva na fogueira já armada mas, definitivamente, a falta dos gritos agoniados tirou a maior parte do prazer que eles tinham em matar e nome de seu Deus.

5 comentários:

  1. Ótimo texto! E eu entendo essas pessoas... Matar algo que não grita não tem a menor graça =/

    E ainda bem que o título é "ficção", por um segundo imaginei que você realmente pensava essas blasfêmias ^^"

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Bom! Muito bom mesmo!

    Eu li o texto todo esperando ela gritar "It's Burn!!!", mas o seu final foi bom também =D hehehe



    E eu me divertia matando formigas quando era criança...e duvido q vc não fazia isso...

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  4. Muito bom, gostei mesmo! Como eu dizia, se vc escreve bem não há sentido não escrever! Parabéns! ^^

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  5. AMEI!!!!

    Muuuito bom, e a temática que você escolheu é maravilhosa.
    Sem comentários.

    Perfeito.

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